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Hoje, 25 de outubro, se celebra o dia da democracia no Brasil. O momento não poderia ser mais emblemático. Esse dia foi escolhido devido a um episódio histórico: o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, no dia 25 de outubro de 1975. Herzog morreu numa sessão de tortura no DOI-CODI. A morte do jornalista provocou a primeira reação popular contra os excessos do regime militar de 1964, tornando-se um marco na luta pela redemocratização do Brasil.

E cá estamos, nas eleições de 2018. Infelizmente, o que está em jogo nesta eleição não é apenas a disputa de um projeto mais social ou menos social, mais ambiental ou menos ambiental. O que está em jogo é o próprio futuro do BRASIL como o conhecemos e ajudamos a construir. O que está em jogo é a DEMOCRACIA, a liberdade de ir e vir, a liberdade de expressão, a liberdade de cada um ser o que é.

Sempre defendi os princípios e direitos constitucionais ao meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações; direitos humanos para todos; direitos das minorias; estado laico; liberdade de expressão e de imprensa; liberdade religiosa; liberdade de associação e ativismo e, é claro, a democracia, sem a qual nenhum desses direitos é possível.

Por isso, neste segundo turno, por coerência e em respeito ao meu próprio histórico de lutas, não sem antes analisar o histórico de vida e as propostas dos candidatos, decidi votar em Fernando Haddad e Manuela D’Ávila.

Ressalto que nunca fui filiada ao PT. Quem conhece a minha história sabe que fui uma das fundadoras do PV em SC e mais recentemente da Rede Sustentabilidade. Também nunca trabalhei em qualquer governo do PT. Votei no Lula, mas nunca votei na Dilma. O PT tem um histórico de acertos e erros e ainda não fez uma coisa fundamental, uma autocrítica de sua atuação. A falta dessa autocrítica e os caminhos errados que escolheu trilhar nos últimos anos, foram responsáveis pelo afastamento de inúmeros quadros importantes, como o afastamento da própria Marina Silva. A questão é que nesse segundo turno estamos diante de uma situação muito mais complexa do que a mera disputa partidária. Estamos na iminência de perdermos nossa democracia e pelo menos isso, o governo do PT nunca afrontou.

Além disso, o Haddad tem experiência e não é maluco, foi um bom ministro da educação e um prefeito de São Paulo reconhecido internacionalmente por sua gestão inovadora e voltada para o bem-estar da população, principalmente na questão da mobilidade com ciclovias, corredores de ônibus e modificação do plano diretor para humanizar a cidade. Ele também já se comprometeu com metas ambientais e com o combate às mudanças climáticas.

Jornalistas, intelectuais, cientistas, ambientalistas do mundo todo alertam os brasileiros sobre os riscos de apoiar um candidato com ideias fascistas, sobre os riscos que esse candidato representa para a economia, o meio ambiente, a cultura, a ciência e tecnologia e para o futuro do Brasil. O mesmo ocorre aqui no Brasil, onde as pessoas que conhecem a história e prezam pela democracia, que muitos ajudaram a reconquistar com muito sangue, suor e lágrimas, também fazem esse alerta. Todas essas vozes lembram que o fascismo ou o nazismo, assim como outros regimes autoritários, na maioria das vezes começaram com o apoio de parte da população. Depois de instalados, tornaram-se autoritários e opressores e a história mostra quanto custou, mundo afora, essa insensatez.

Todos sabemos como foi difícil edificar cada tijolo dessa construção que levou o Brasil a respeitar minimamente o meio ambiente.

Cada avanço legal, cada palavra sobre meio ambiente escrita na Constituição Cidadã, a resistência para impedir retrocessos, cada nova UC criada, cada árvore plantada, cada instituição ambiental pública criada e implementada, cada acordo internacional duramente conquistado, cada ONG ambientalista criada com muito ativismo, suor e dedicação, cada conselho criado e as horas e dias dedicados às discussões democráticas nesses conselhos, e a Lei da Mata Atlântica e sua regulamentação que levou mais de 15 anos, cada trilha ecológica construída, cada palestra por um mundo melhor, mais solidário, mais inclusivo, mais respeitoso com todos os seres vivos. Tudo isso levou décadas. Essas conquistas foram “caras” e obtidas de forma progressiva, durante diversos governos.

O Bolsonaro declara abertamente que vai “acabar com todo e qualquer ativismo” e não vai demarcar 1 cm de terra indígena, que as UCs atrapalham o desenvolvimento da agropecuária, que vai fechar o Ministério do Meio Ambiente, que vai liberar a caça, que vai liberar o desmatamento na Amazônia e para facilitar o desmatamento, vai proibir o Ibama e o ICMbio de aplicarem multas, que vai tirar o Brasil do Acordo de Paris, além de defender a tortura e os torturadores.

As declarações, por si só, vindas de alguém que disputa a presidência da república, são devastadoras, incitam a violência, estimulam o desmatamento, estimulam o desrespeito a quem luta pelo meio ambiente e pela vida de todos os seres, estimula o ódio aos defensores e ativistas das causas ambientais e de direitos humanos.

Ou seja, meu voto, democrático, crítico e de oposição, é para Haddad e Manuela.

A que ponto chegamos… ter que batalhar pela liberdade de discordar.

 

Fotos da manifestação “Marcha a ré da Rio+20”, Rio de Janeiro, 2012.