Hoje, junto com Marina Silva, saio do PV. Essa atitude pesa no coração e é tomada depois de muita reflexão. Sou uma das fundadoras do PV em Santa Catarina. Fui candidata em 1988. Fizemos uma belíssima campanha: “que as ideias floresçam e a árvores cresçam”. Foi a primeira vez na história de SC que uma chapa só de mulheres disputou uma prefeitura.
Na década de 90 tive que optar entre a militância partidária e o trabalho na ONG ambientalista que eu havia ajuda a criar em 1987. Em 2009 fui chamada a retornar exatamente sob o argumento de ter chegado o momento do PV dar a volta por cima e aproveitar a oportunidade única de fazer uma grande diferença na política de desenvolvimento sustentável no Brasil.
Acreditando nisso aceitei ser candidata à Deputada Federal e fazer uma campanha com grandes desafios.
Essa experiência foi uma das melhores da minha vida e conseguimos movimentar pessoas, ideais, caminhos e esperanças, que continuam acesas para continuar movimentando os rumos de um país melhor. Infelizmente isso não é mais possível dentro do PV. Precisamos de uma Nova Política. Agradeço de coração todo o apoio recebido durante todo este período. Reforço aqui meu compromisso com o futuro sustentável do Planeta.
Carta de desfiliação enviada à direção do PV
Chegou a hora de acreditar que vale a pena, juntos, criarmos um grande movimento para que o Brasil vá além e coloque em prática tudo aquilo que a sociedade aprendeu nas últimas décadas, experimentando a convivência na diversidade, a invenção de novas maneiras de resolver problemas solidariamente, indo à luta à margem [das estruturas burocráticas] do Estado para defender direitos, agindo em rede, expandindo e agregando conhecimento sobre novas formas de fazer, produzir, gerar riquezas sem privilégios e sem destruição do incomparável patrimônio natural brasileiro.
Esse texto, que abre o documento “Juntos pelo Brasil que queremos – diretrizes para o programa de governo”, expressa a motivação do grupo de pessoas que assina esta carta ao ingressar no Partido Verde e que tinha na candidatura de Marina Silva à Presidência da República a oportunidade de ampliar essas ideias e dialogar com a sociedade.
Participamos, ao longo dos últimos 22 meses, da vida partidária com a expectativa de colaborarmos para colocar em prática os três compromissos que marcaram a entrada da Marina no partido: a candidatura própria à Presidência da República, a revisão programática e a reestruturação estatutária.
Apesar das dificuldades próprias de uma candidatura dessa envergadura, e algumas geradas por resistências internas a um projeto efetivamente autônomo, realizamos uma campanha ampla, que envolveu a militância do partido e a colaboração de inúmeras pessoas da sociedade que encontraram na candidatura um meio de expressão e de representação de desejos e esperança.
Depois de um resultado expressivo na eleição, entendíamos que era o momento de aproximarmos ainda mais o PV desse legado, incorporando na prática do partido propostas como uma nova forma de fazer política, o diálogo horizontal com a sociedade por meio de redes sociais – digitais ou não, a sustentabilidade como valor central para um projeto de desenvolvimento e muitas outras que receberam ampla adesão social.
Chegamos nesse momento em que reconhecemos que não é possível trilhar esse caminho dentro do PV. As resistências internas, que durante a campanha eram veladas e pontuais, expressaram-se claramente na sua totalidade. A direção do partido, em sua maioria, disse não à democratização de suas estruturas institucionais, ao diálogo com a sociedade e a um projeto autônomo de construção partidária.
Acreditamos que essas propostas não podem ficar enclausuradas em estruturas arcaicas de poder. Queremos resgatar as motivações originais desse projeto, agora participando da construção de uma nova política efetivamente democrática, ética, ecológica, participativa, inovadora e conectada com os desafios e oportunidades que o século 21 nos impõe.
Pelas razões acima expostas, comunicamos à direção nacional do PV nossa desfiliação, juntamente com Marina Silva. Aos milhares de militantes do partido, estaremos sempre juntos na construção de um Brasil justo e sustentável.
Adriana Ramos
André Lima
Bazileu Alves Margarido Neto
Guilherme Leal
João Paulo Capobianco
José Paulo Teixeira
Juarez de Paula
Luciano Zica
Marcos Novaes
Marina Silva
Miriam Prochnow
Pedro Ivo Batista
Ricardo Young
Roberto Kishinami
Rubens Gomes
Sérgio Guimarães
É estranho o que acontece no Brasil. São 27 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ou seja, são 27 ‘Brasis’ diferentes, 27 modos distintos de governar uma mesma nação. Será que de fato existem tantas propostas assim? Afinal, cada vez que se ‘renovam’ os governantes e os parlamentares em nosso país, já sabemos o que vamos ouvir nos próximos noticiários: corrupção, dominação partidária, troca de favores (tenho horror àquela expressão ‘uma mão lava a outra’), população desiludida por promessas… Enfim, aquilo que todos já conhecemos e já estamos cansados de ouvir. Partidos que se dizem socialistas, comunistas, democratas, trabalhistas, liberais, verdes e tudo os mais, todos convergem para uma única forma de governo: a de interesses pessoais, ou, no mais generoso possível, no interesse de um grupo de pessoas, da mesma elite, é claro.
É espantoso que nenhum dos partidos que se mostraram dispostos a mudar a forma de fazer política tenham conseguido efetivar sua proposta inicial. Logo surge a ganância pelo poder, a flexão à realização de benefícios próprios, a fome pelos cargos comissionados e abuso da fama conquistada. E toda aquela bela proposta vai por água a baixo. Estou falando de algo distante? Claro que não. Cito três exemplos muito atuais em nossa história: o PT, inicialmente era o líder contra a corrupção, hoje vê muitos de seus ‘filhos’ sendo condenados por uso indevido do dinheiro público; o PSOL, que teve um início tão revolucionário, com uma proposta imensamente avassaladora, hoje já viu até sua fundadora, decepcionada com as decisões tomadas, pedindo afastamento da presidência; e agora vemos o PV que, junto a Marina Silva, trouxe, na última eleição presidencial (em 2010), uma proposta nova e singular, mas hoje se vê fragmentado (principalmente pela saída de seu baluarte: a Marina) por decisões que impedem a democratização do partido (claro, os que estão em cima, mais uma vez, não querem descer).
E os brasileiros que trabalham todos os das, o dia todo, para sustentarem este país, ficam mais uma vez ao relento, vendo os seus ‘líderes’ sentados em confortáveis cadeiras, em suas salas com ar condicionado e cheias de assessores decidindo se vão aumentar 1 ou 2 reais no Bolsa Família e no salário mínimo (aliás, quem acha que dar presentinho para efetuar a dominação de um povo fosse apenas algo histórico, que os portugueses faziam com os nativos de nossa terra… Se engana, pois é exatamente isso que acontece com a maioria, para não dizer todos, dos projetos de ‘auxílio’ ao cidadão carente de nossa ‘democracia brasileira’). Mas nossos políticos também são generosos! Claro, principalmente quando o assunto é o percentual de aumento de suas próprias folhas de pagamento. Alguém discute isso?
De fato o Brasil precisa, urgentemente, de uma reforma em sua política. Precisa de políticos que deixem seus interesses próprios para atenderem aquilo que é tão gritante em nosso país. Não falo aqui só da falta de dinheiro, alimentação, saúde, proteção ambiental ou educação. Também, mas não só. Falo aqui do respeito com cada indivíduo, reconhecendo cada brasileiro como um ser humano que, para estar aqui, precisou não ser abortado pela sua mãe, que precisou, aliás, nascer de uma mãe, mas também com a participação de um pai (parece óbvio, mas não é o que reflete em nossa sociedade), sejam eles quem for, sejam conhecidos ou não. Seres humanos integrais, não simplesmente números ou força de trabalho, mas seres que amam e tem direito de serem amados como são, cada qual em sua autenticidade. Porque nossos políticos se preocupam tanto com os materiais a serem usados na construção de obras (sejam elas públicas ou de suas mansões particulares) e se esquecem que aqueles que vão efetuá-las e usufruir delas precisam do máximo de dignidade, pois assim como cada um de nós, são pessoas que sonham e que se emocionam. Que choram com a dor da partida de pessoas queridas, que são felizes ao poderem ver o sorriso no rosto de seus filhos e que, possuem uma tristeza inigualável, quando percebem que os mesmo não se sentem bem ao estarem em um país que não sabe os respeitar.
Será tudo isso utópico? Quero crer que não! Quero acreditar que ainda existam pessoas o suficiente para mudar tudo isso. Pessoas que acreditam no valor da Vida e a respeitem em todas as suas dimensões. Que conhecem e sentem a força de um Deus que ama infinitamente cada um de seus filhos e que não os abandona nunca. Eu sei que sozinho não posso mudar mundo. Mas nem quero lutar sozinho, quero apenas fazer a minha parte. Pois é juntos que fazemos a mudança. E é centrados naquilo que queremos que vamos fazer o diferente acontecer. É nunca esquecer de nosso ponto de partida, mas sempre olhando para frente, almejando, com todas as nossas forças, a vitória da chegada.
Marina Silva, junto com seus amigos vem trazendo uma nova proposta. Uma proposta que, ao menos aparentemente, traz mudanças muito positivas, que merecem nosso respeito e atenção. Se assim persistirem, se não desviarem suas vontades de fazer o bem a todos e não apenas a si próprios, tenham certeza que eu e muito brasileiros de bem estaremos nessa luta. Será que algo inédito vai acontecer desta vez? Quero muito acreditar que sim. Quero acreditar que agora o ideal só será renovado e ampliado depois de estar cumprido. Eu acredito no valor da Vida, e quem quiser lutar a favor dela, tem meu apoio e minhas orações.
Felipe Xavier – Seminarista SCJ
“Sem amor, eu nada seria” (Cf. 1Cor 13,2)