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Artigo de João Paulo Capobianco, coordenador da campanha de Marina Silva à Presidência da República, publicado no Jornal Estado de São Paulo, em 12 de julho de 2011.

Do PV para a Sociedade

A entrada de Marina Silva e de um expressivo número de lideranças do movimento socioambiental no PV, entre agosto de 2009 e junho de 2010, não foi um processo isolado ou uma mera aventura no mundo da política institucional.

Assim como a saída desse grupo, oficializada na semana passada, não se deve à perda na disputa pelo controle do partido ou é fruto de uma desilusão com a política partidária.

A decisão de ingressar no PV e, depois, lançar a candidatura de Marina à Presidência e de vários outros militantes do socioambientalismo ao governo de Estados, ao Senado e à Câmara, resultou de um intenso processo de discussão no âmbito do então recém-criado Movimento Brasil Sustentável.

Esse movimento teve origem no início de 2009, a partir da aglutinação de lideranças de ONGs, empresas, academia, redes e movimentos sociais, sindicatos, entidades setoriais, meios de comunicação e pessoas que atuavam pelo desenvolvimento de uma agenda socioambiental estratégica para o País.

Seus objetivos eram de contribuir para, conforme expresso em seu manifesto de lançamento, em julho de 2009, “transformar o Brasil num país economicamente forte, socialmente justo, ambientalmente responsável e, acima de tudo, ético”.

Foi nesse contexto de debates e articulações extremamente motivadoras, que o PV fez o convite para que Marina, uma das principais lideranças do Movimento Brasil Sustentável, se lançasse como sua candidata à Presidência.

Tomada a decisão de aceitar o convite, parte das pessoas do movimento se filiou ao PV para garantir sustentação interna à candidatura, seja na coordenação da campanha, seja se lançando como candidatos. Outros, a maioria, não se filiaram, mas passaram a colaborar intensamente com ela, principalmente no desenvolvimento do programa e na estruturação da campanha.

Nesse sentido, a candidatura presidencial não nasceu isolada. Ela surgiu de um forte processo de articulação da sociedade, que forneceu a sustentação política, a estrutura e o apoio, necessários a estabelecer as condições para que Marina pudesse chegar ao excelente resultado obtido nas urnas.

Passada as eleições, no entanto, o PV mostrou que seu compromisso com a reestruturação do partido, marcado pela aberração da totalidade dos diretórios municipais e estaduais serem provisórios, não seria cumprido.

Ao mesmo tempo, ficou claro, que a democratização do partido não interessava, porque a interferência direta dos filiados nas decisões inviabilizaria sua histórica atuação como linha auxiliar de partidos maiores, recompensado por participações secundárias de alguns dirigentes em governos, a partir de acordos pragmáticos e não programáticos.

Esgotados quase seis meses de discussões e busca de mudanças, ficou claro que o PV não seria o espaço institucional adequado para tratar com a responsabilidade o legado de quase 20 milhões de votos obtidos por Marina.

A saída do PV, portanto, não é um ato contra o partido ou a negação da importância da atuação político partidária. É a reafirmação de que o nosso compromisso é com um projeto maior, que tem como objetivo central e programático desenvolver e implementar uma agenda de sustentabilidade socioambiental para o Brasil, que não se confunde com disputas por espaços institucionais ou por estruturas refratárias ao novo.