Estamos a apenas oito anos de 2030, ano que marca o fim da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas, um apelo para a proteção e revitalização de ecossistemas do mundo todo. Os riscos envolvendo a perda da biodiversidade foram discutidos durante a 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP 15) que ocorreu na China, em 2021. Durante o evento, foi divulgado que nas próximas décadas, pelo menos um milhão de espécies correm risco de desaparecer para sempre graças à ação humana, que está por trás das mudanças climáticas, da destruição de habitats, poluição e agricultura industrial.

O ano de 2030 também foi definido como meta para a redução das emissões dos gases de efeito estufa (GEE) em 45% em comparação com os níveis de 2010. Trata-se de um passo fundamental para limitar o aquecimento global a 1,5ºC e frear os danos causados pelas mudanças climáticas. Durante a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) ocorrida na Escócia em 2021, o Brasil se comprometeu a restaurar e reflorestar 18 milhões de hectares até 2030, além de recuperar 30 milhões de hectares de pastagens degradadas. Mas ainda não está claro de que forma poderemos atingir essa meta.

O Brasil, conhecido por sua natureza rica e exuberante, infelizmente, foi líder mundial na perda de florestas tropicais em 2021, de acordo com dados do Global Forest Watch. Com a perda de 1,5 milhão de hectares de florestas primárias, o país respondeu por 40% da derrubada registrada globalmente. Em 2021 foram desmatados mais de 21 mil hectares de Mata Atlântica, índice 66% superior ao registrado no período de 2019-2020 e 90% acima do observado entre 2017 e 2018. O país encontra-se em um momento crítico, colocando em risco biomas únicos como a Mata Atlântica, um hotspot mundial com recordes de biodiversidade e um dos mais ameaçados do planeta. Com apenas 12,5% de sua área original preservados, abriga 35% de todas as espécies vegetais do país e mais de duas mil espécies de animais, sem contar os insetos. Conforme mostram os dados do Atlas da Mata Atlântica (SOS Mata Atlântica/Inpe), o bioma continua sofrendo com desmatamentos, colocando em risco a qualidade de vida de mais de 100 milhões de brasileiros que dependem das bacias hidrográficas localizadas em áreas de Mata Atlântica para terem acesso à água.

É por isso que o 27 de maio, o Dia da Mata Atlântica, é mais um alerta à sociedade diante desse cenário e um chamado para a ação. Além dos riscos à biodiversidade, o desmatamento aumenta os níveis de erosão do solo e afeta a qualidade e a disponibilidade de água para a população. Outra consequência é o aumento nas emissões de CO2 na atmosfera, que contribuem com o aquecimento global, levando a uma maior incidência de inundações, ondas de calor, furacões e incêndios florestais no mundo todo. No Brasil, os principais efeitos das mudanças climáticas são períodos de estiagem mais longos na região nordeste e o aumento na frequência e na intensidade das inundações no sul e sudeste.

A boa notícia é que, mesmo com níveis de desmatamento alarmantes, o Brasil sozinho representa 20% das oportunidades globais nas chamadas Soluções Baseadas na Natureza (SBNs). As SBNs são uma das formas mais eficientes de recuperar áreas florestais degradadas e incluem ações como a restauração ambiental, o enriquecimento ecológico de florestas secundárias e a gestão sustentável de ecossistemas. Ainda que o investimento inicial possa parecer alto, já que exige um amplo planejamento e conhecimento técnico para garantir a escala e o sucesso desse tipo de empreitada, dados apontam que para cada dólar investido em restauração, pode-se esperar entre US$ 7 a US$ 30 em retorno para a sociedade.

Além das vantagens para o meio ambiente, esse tipo de iniciativa oferece oportunidades para a diversificação de renda no meio rural, como a silvicultura de espécies nativas, os sistemas agroflorestais e o potencial pagamento por serviços ambientais (PSA), que remunera os produtores rurais que investem na restauração ambiental de suas propriedades.

Estudos divulgados pelo WRI apontam que mundialmente, as florestas em pé têm papel importante no combate ao aquecimento global por funcionarem como uma espécie de sumidouro de carbono, com uma absorção líquida de 7,6 bilhões de toneladas de CO2 por ano, 1,5 vez mais carbono do que os EUA, segundo maior emissor do mundo, emitem anualmente.

A humanidade enfrenta atualmente um dos seus maiores desafios: a reversão do aquecimento global e seus inúmeros danos, que já são sentidos em todas as partes do planeta. O Brasil, país continental com sua biodiversidade única, tem a oportunidade de ser um dos protagonistas nessa busca por um futuro possível. É preciso que o tema faça parte do dia a dia da sociedade, das empresas e do governo para que possamos nos unir em prol desta importante missão.

*Autores: Julian Fox é Diretor Global de Nature Programs na Tetra Pak e Miriam Prochnow é co-fundadora da Apremavi. Juntas, lançaram em abril de 2022 o projeto Conservador das Araucárias. Para mais informações, acesse.

Publicado originalmente em: Estadão.