Engajada em causas sócio-ambientais por três décadas, Miriam Prochnow não disputa um cargo eletivo há oito anos. Esta será a primeira eleição da catarinense natural de Agrolândia, no Alto Vale do Itajaí, como filiada à Rede. A candidata traz no discurso de campanha o quão complexo é tratar de sustentabilidade no Estado e como pretende gerir o tema no Senado.
Confira abaixo o que a candidata tem a falar em mais uma entrevista da série com os candidatos catarinenses ao Senado produzidas pelo Diário Catarinense.
Perfil
Nascimento e idade: 22/09/1964 | 54 anos
Naturalidade: Agrolândia (SC)
Profissão: militante na área sócio-ambiental
Escolaridade: superior
Carreira política: nunca foi eleita para cargo público
Vídeo: confira as principais propostas de Miriam Prochnow, candidata ao Senado pela Rede.
A senhora era filiada ao Partido Verde, chegou a disputar duas eleições sob a bandeira do PV, em 1988 e em 2010. Qual foi a motivação para a troca de filiação?
Olha, a mudança do PV para a Rede foi mesmo pela forma de organização. O Partido Verde não estava disposto a fazer uma discussão para criar um partido com esse estatuto mais moderno de atuação em rede. Nós temos, por exemplo, algumas regras que são completamente diferentes dos outros partidos, começando pelos representantes maiores, nossos porta-vozes. Nós não os chamamos de presidente e vice-presidente, chamamos de coordenador e porta-voz e obrigatoriamente é um homem e uma mulher. Nós não temos diretórios apesar de que o TRE exige que tenha esse nome nas atas, mas para nós são elos. É o elo estadual, são os elos municipais. Temos elos setoriais também. Então, essa forma de organização do partido é que não foi possível dentro do PV. Em termos de temas e de manifesto é bastante similar, mas de fato a questão que nos levou a criar um novo partido foi essa. Ter a possibilidade de fazer esse novo modelo e de conversar com a sociedade. Outro exemplo importante disso é a candidatura cidadã. Defendemos que movimentos da sociedade possam indicar pessoas para serem candidatas sem ter partido. Isso hoje não é possível porque a reforma política, a lei partidária, não permite, mas na Rede nós temos essa figura. Inclusive, temos duas pessoas nessa condição. São pessoas indicadas por um movimento, que precisam ser filiadas, mas não precisam fazer parte da vida do partido para serem candidatas. Isso não era possível em outros partidos. Especialmente, sendo mulher, você tendo essa obrigatoriedade de em todos os cargos máximos ter um homem e uma mulher, isso faz com que você tenha mais espaço. É uma das formas que foi bem importante da época para eu vir para a Rede.
E qual é a opinião da senhora sobre fidelidade partidária?
A Rede tem como uma das características respeitar a diversidade. Então, tudo o que não for dentro do estatuto, dentro do manifesto, as pessoas podem ter a sua individualidade. É óbvio que a maneira da Rede de trabalhar é de coletivo, é de discussão. Um outro ponto importante é o consenso progressivo. É quando você tem um termo e as pessoas têm várias opiniões, elas sentam e debatem, argumentam, conversam até ter um consenso. Isso é um processo e às vezes leva muito tempo, você tem que ter paciência para que as coisas aconteçam, mas no final você tem um posicionamento de entendimento de todo mundo. É muito mais do que uma simples fidelização ao partido ou voto de cabresto. Não é isso. Quando a pessoa, no fim das contas, vai votar numa matéria ela está convencida de que aquele voto é um voto consciente. É um processo um pouquinho mais complexo do que só sim ou não.
A Rede também tem como discurso não ser nem de direita, nem de esquerda. Isso pode ser uma dificuldade ao longo da campanha?
Não. Por que quando a gente tem a oportunidade de falar que a Rede é um partido programático, então, muitas vezes as pessoas estão acostumadas realmente a ter o sim ou o não, o esquerda ou direita, contra ou a favor, não estão acostumadas a ter um espaço para debater na nossa sociedade. Então, quando você explica para as pessoas que a questão é que nós queremos conversar e ver qual o melhor caminho e você pode ajudar nisso, todo mundo gosta, todo mundo aceita e entende. Acho que já passou essa época. O século 21, os desafios do século 21, não cabem mais à esquerda ou direita. O Partido Verde, por exemplo, já falava isso na época em que eu era do PV. Nós discutimos o mundo de amanhã e como a sociedade humana pode sobreviver. O planeta vai continuar, não temos a capacidade para destruir o planeta, mas temos a capacidade de nos auto destruir e a gente só vai conseguir combater isso programaticamente. E aí muitas vezes, por exemplo, se a questão é conservação, não adianta esquerda ou direita. A direita queria só discutir a melhor forma de dividir o bolo para alguns. Quem fica com a maior fatia. A esquerda como dividir o bolo para todo mundo. Nós queremos fazer com que tenha bolo para sempre. Essa é a diferença de um partido programático.
O currículo da senhora abrange, principalmente na atuação e engajamento, causas ambientais. Esse vai ser o tema que a senhora vai defender, se eleita? É a principal bandeira?
Isso faz parte, claro, da minha vida. Tenho 30 anos de trabalho com causas sócio-ambientais, mas as causas sócio ambientais hoje, do ponto de vista da sustentabilidade, elas envolvem tudo, então se eu discutir água, que é um tema predominantemente ambiental, eu estou discutindo economia, por que eu não faço agricultura sem água, não faço pecuária sem água, não toco nenhuma indústria sem água. Não lavo nem uma louça sem água e não tomo banho sem água. Então, isso está vinculado, não é mais possível desvincular as coisas e aí quando a gente fala de sustentabilidade, a gente não está mais nem falando daquele tripé econômico, social e ambiental. Sustentabilidade hoje é muito mais complexo, ela envolve cultura, ética, estética, política. Então isso ultrapassa as fronteiras e dentro do meu trabalho, nos últimos 10 anos, tenho atuado com fóruns de discussão multissetoriais, então o diálogo florestal foi um deles, onde ONGs ambientalistas e empresas do setor florestal, a gente debate temas polêmicos com uma série de critérios, transparência, não exclusão, compromisso, seriedade e debate até chegar a um acordo. E a coalizão Brasil/ Clima/ Floresta e Agricultura que também tem todos esses setores, academia, agronegócio, ONGs ambientalistas, sociais para discutir clima, então agricultura de baixo carbono, como implantar isso. Como o Brasil vai dar conta das metas climáticas que ele assumiu na convenção de clima. Tudo isso está interligado, então, não existe mais esse tempo. Acho que para os desafios do século 21 o ambientalista é uma figura extremamente importante. Nós não podemos ficar com uma equipe onde não existe um ambientalista, ele vai trazer muitas soluções para os problemas e desafios que a gente tem.
Em uma entrevista dada em 2014, a senhora afirmava que SC era um desastre. Qual é a opinião da senhora hoje?
Eu vejo que SC é um Estado que tem projetos maravilhosos, é modelo para várias coisas em vários setores. Só que não é vista. A maioria dos atuais políticos está comprometida com algum lobby, com alguma causa, com quem os elegeu e não com os 7 milhões de catarinenses porque a população faz SC acontecer, mas os nosso políticos não levam essa SC para fora. Então esse é um dos motivos para eu estar candidata ao senado. Poder projetar novamente SC nesse protagonismo, nessa questão de ser guerreira, de mostrar a como pode ser. Eu sempre tive no meu trabalho de meio ambiente um lema que era boca no trombone, e mão na massa. Boca no trombone é a questão de fazer denúncia militante e a mão na massa por outro lado é aquele de mostrar como você pode fazer. E daí a gente tem realmente, hoje, milhares de parceiros que trabalham com restauração que antes diziam que não podia perder minha área por que eu faço pasto aqui, não irei plantar árvores. A partir do momento que essas pessoas começaram a plantar árvores e viram que a qualidade de vida delas melhorou naquela propriedade, eles viraram parceiros. Isso são coisas que SC tem para mostrar, SC tem para mostrar também e evoluir muito a questão do eco turismo, uma das atividades econômicas que mais cresce no mundo, que mais gera emprego e renda, principalmente localmente e a gente está muito acanhado. Temos a Serra Catarinense, linda e maravilhosa, sendo ameaçada de virar pastagem comum, enfim. Nós precisamos preservar o patrimônio para poder ter retorno com ele.
E como um senador pode sanar essas dificuldades?
Vou dar um exemplo em uma outra área. A mudança da matriz energética que também é importante e precisa ser falada. Precisamos de energias limpas e livres de carbono. Uma dessas energias é a solar. Por que a energia solar não deslancha? Primeiro porque não tem incentivo, é caro, não tem estimulo, você quase não tem retorno, apesar de já existirem projetos nessa linha bem importantes aqui no Estado. Um senador pode trabalhar em um projeto de lei que traga esses benefícios e esses incentivos e que faça uma parte, por exemplo. A propriedade rural de SC hoje, basicamente agricultura familiar e pequenas propriedades, mas todas elas tem rancho ou tem um galpão de frangos, de suínos. Metros quadrados de telhado não faltam. Agora a gente precisaria de um projeto de lei que possibilitasse que os nossos proprietários rurais pudessem instalar placas solares nesses telhados e serem além de produtores de alimento, produtores de energia. E isso também gera emprego e renda. Porque você precisa produzir os painéis, instalar, monitorar e você tem a energia para vender. Então, esse é o tipo de trabalho que através de projeto de lei, de trabalho para que tenha incentivo nos bancos estatais, Banco do Brasil ou BNDS, é trabalho de senador. Esse é o tipo de trabalho que eu vou fazer também nessas outras áreas que eu falei.
Como um senador eleito por SC pode ajudar o Estado a receber mais dinheiro do governo federal?
Isso que eu acabei de falar, de projeto de lei, é uma das formas, fazendo projetos que destinem recursos para temas estratégico. E aí a gente tem vários temas estratégicos e precisa ter um trabalho sistemático e ter projetos bem elaborados e que peguem toda a cadeia digamos assim. A outra forma, sem sombra de dúvidas, é trabalhar para que os repasses constitucionais sejam executados, e aí, talvez seja o caso do tal boca no trombone. Um senador ele tem também essa função de denunciar onde os repasses não estão sendo feitos e onde as questões têm um gargalo.
A corrupção no Legislativo pode ser uma barreira?
Com certeza. Acho que eu não mencionei aqui, mas sou signatária de um pacote de medidas anti corrupção. E estou completamente comprometida com isso, inclusive fazendo um mandato completamente transparente, com medidas que a própria Rede defende como por exemplo, a criminalização do caixa 2, fim do foro privilegiado, aplicação da lei da ficha limpa para contratação de cargos de comissão. Várias medidas com relação ao combate da corrupção. Com certeza é a primeira coisa que precisa ser feita e eu tenho esse compromisso com essas medidas.