Conheça Miriam Prochnow
Miriam Prochnow é uma catarinense, nascida em Agrolândia, no Alto Vale do Itajaí, caçula de uma grande família de 8 irmãos. Aprendeu a amar a natureza ainda na infância acompanhando seu pai em pescarias e vendo sua mãe cuidar do jardim, conhecido na época como o mais bonito da cidade. Sua determinação, ao fazer greve de fome ao ver seu pai chegar com caça em casa, o fez parar com o hobby, que era comum na época.
Ainda menina sabia que seu objetivo era ganhar o mundo. Tanto que, aos 14 anos, deixou a segurança da casa dos pais para terminar os estudos em Rio do Sul. Ainda adolescente, encontrava tempo para participar da Comissão Municipal de Saúde de Agrolândia, na qual se dedicava a participar de campanhas de esclarecimento e de vacinação nas comunidades do município,nos finais de semana.
Ao se casar, aos 19 anos, mudou-se para Ibirama, onde o marido Wigold Schäffer era fiscal de crédito agrícola do Banco do Brasil. Nesta época, se dividia entre o trabalho como professora e a faculdade de pedagogia, que cursava à noite em Rio do Sul. Ser educadora é um objetivo que a acompanha até hoje.
Em suas folgas, acompanhava Wigold nas visitas aos clientes do banco. Nessas viagens, via a degradação ao longo do caminho, no qual esbarrava com caminhões e caminhões de madeira nativa sendo carregada, a erosão do solo e o comprometimento dos rios e riachos da região causados pelo desmatamento acelerado em uma das mais bonitas e ricas regiões do bioma Mata Atlântica.
A vontade de mudar essa situação, levou Miriam a fundar, junto com Wigold e alguns amigos, em 1987, a Apremavi (Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida), hoje uma das principais organizações ambientalistas de Santa Catarina e do Brasil, referência na proteção e restauração da Mata Atlântica. Em pouco tempo, Miriam passou a se dedicar exclusivamente ao trabalho na Apremavi, onde esteve à frente de atividades relacionadas à mobilização e educação ambiental, proposição e acompanhamento de políticas públicas, campanhas e projetos de recuperação ambiental.
Uma das primeiras lutas da Apremavi foi pela criação de uma área protegida na Serra da Abelha, último reduto significativo de Floresta com Araucárias no Alto Vale do Itajaí, que era alvo de invasão por madeireiros. A empreitada foi bem-sucedida, com a criação, em 1994, de uma Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) com 4.300 hectares no local. O lema da organização era “Boca no Trombone e Mão na Massa”, ou seja, fazer militância, denunciar, mas também apresentar e trabalhar nas soluções.
A liderança de Miriam foi fundamental para a criação da Federação de Entidades Ecologistas Catarinenses, em 1988, da qual foi a primeira coordenadora geral. Foi também representante das organizações não governamentais (ONGs) da Região Sul no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão federal encarregado de estabelecer as políticas brasileiras de meio ambiente. Como conselheira do Conama, Miriam participou ativamente da regulamentação do Decreto 750/1993, que permitiu, pela primeira vez, a proteção e o uso sustentável da Mata Atlântica.
O ativismo de Miriam e Wigold levou o casal a enfrentar várias perseguições entre o final dos anos 1980 e início dos 1990, obrigando-os a buscar proteção policial e a mudar de cidade, estabelecendo-se em Agrolândia, onde poderiam contar com a ajuda da família de Miriam sobretudo em relação ao cuidado e proteção das duas filhas pequenas, Carolina (nascida em 1989) e Gabriela (em 1992). Em nenhum momento, as ameaças intimidaram Miriam, que manteve as convicções que sempre permearam seu trabalho e vida pessoal.
O estilo de atuação imprimido por Miriam na Apremavi, baseado na busca de parcerias e colaboração, levou a organização a ser uma das fundadoras, em 1992, da Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA), uma iniciativa que representa mais de 300 entidades que atuam em prol deste bioma, no qual o Estado de Santa Catarina está totalmente inserido. Só em Santa Catarina eram cerca de 40 entidades. Miriam fez parte da coordenação da RMA, representando as entidades da Região Sul, desde sua fundação. Quando a RMA se institucionalizou e abriu um escritório em Brasília, Miriam foi convidada para coordenar esse escritório, mudando-se com a família para a capital federal, onde ficou pelos próximos 13 anos. Em 2003 foi eleita coordenadora geral da RMA, cargo que ocupou até 2007.
Nesse período, participou das negociações que resultaram na criação de várias unidades de conservação, algumas delas em Santa Catarina, como o Parque Nacional das Araucárias, a Estação Ecológica Mata Preta e o Parque Nacional da Serra do Itajaí. Contribuiu nos estudos das propostas de criação do Parque Nacional do Campo dos Padres, do Refúgio de Vida Silvestre do Rio da Prata e do Refúgio de Vida Silvestre do Rio Pelotas, que encontram-se prontas esperando assinatura do decreto presidencial. Foi também uma das líderes nas negociações e acompanhamento da tramitação da Lei da Mata Atlântica (Lei no 11.428/2006), única lei específica para um bioma até hoje existente no país. Por conta disso, foi quem falou em nome das ONGs na solenidade de sanção da lei pelo então presidente Lula em 23 de dezembro de 2006.
Em 2008, Miriam foi chamada para mais um desafio, para o qual se dedicou por dez anos: ser a secretária executiva do Diálogo Florestal, iniciativa concebida para apaziguar as relações entre as principais empresas produtoras de papel e celulose do país e organizações ambientalistas. Modelo concebido por organismos como o Banco Mundial, o World Resources Institute (WRI) e o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, o Diálogo Florestal brasileiro conciliou dois setores extremamente polarizados em busca de interesses comuns, que resultaram em acordos voltados para a resolução de conflitos com agricultores e populações tradicionais, adequação ambiental das plantações de pinus e eucalipto, entre outros, que tornaram a silvicultura brasileira mais reconhecida e competitiva internacionalmente.
Em 2002, Miriam representou a Apremavi na criação do Observatório do Clima, principal articulação da sociedade civil de combate às mudanças climáticas. Desde 2010, Miriam é integrante também do Conselho de Coordenação do Diálogo Florestal Internacional e, desde 2014, do Grupo Estratégico da Coalização Brasil Clima, Florestas e Agricultura – um movimento multissetorial criado para tratar das questões decorrentes das mudanças climáticas sob a ótica de uma nova economia, baseada na baixa emissão de gases de efeito estufa -, para o qual levou sua experiência de conciliação desenvolvida no Diálogo Florestal.
Ao longo de mais de 30 anos de atuação, Miriam ministrou inúmeras palestras, no Brasil e no exterior, sobre temas que envolvem qualidade de vida e adequação ambiental em imóveis rurais, com ênfase na agricultura sustentável e orgânica, e na conservação da biodiversidade e da Mata Atlântica, incluindo a recuperação de áreas degradadas. Realizou trabalhos com agricultura orgânica, reflorestamento e restauração florestal em diversas propriedades em Santa Catarina, entre as quais muitas hoje são exemplo de “propriedades legais”, princípio criado pela Apremavi pelo qual uma propriedade precisa estar totalmente adequada à legislação e, ao mesmo tempo, ser produtiva e um lugar bonito e agradável para se viver.
Esse modelo, cujo impacto na qualidade de vida das famílias é enorme, foi desenvolvido, em primeiro lugar, em sua propriedade, em Atalanta, para onde se mudou ao voltar de Brasília, em 2012. Com uma trajetória de vida marcada pela ética e coerência em todos os campos de atuação, Miriam construiu sua casa seguindo todos os preceitos de sustentabilidade que sempre defendeu e tira de sua horta e pomar grande parte do que a família precisa.
Seu amor pela Mata Atlântica, a levou também a comprar uma propriedade nas redondezas de sua casa e transformá-la em uma reserva particular para preservar uma linda cachoeira na qual ela e Wigold gostam de passear.
Miriam é líder Avina, instituição que apoia e estimula lideranças em diferentes áreas (educação, meio ambiente, cultura etc.) em todo o mundo, e ajudou a criar e faz parte do conselho do Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA), organização que apoia o desenvolvimento de pequenas e médias ONGs. É também fotógrafa, produtora e locutora de vídeos, além de coordenadora e autora de livros e publicações voltados ao meio ambiente e à educação. É integrante do Movimento Escoteiro, tendo sido chefe do Grupo Escoteiro José de Anchieta, em Brasília, na época em que suas filhas frequentavam o grupo. Foi condutora “Abraça” da Tocha Olímpica, representando as causas da sustentabilidade dos Jogos Rio 2016, indicada pelo FSC®, o Conselho Mundial de Certificação Florestal.
Como uma mulher que trabalha para melhorar a situação do país e sua população, Miriam também sempre procurou acompanhar e ter uma atuação na instância partidária, diretamente responsável pela condução das políticas públicas. Por esse motivo, em 1988, foi candidata à prefeitura de Ibirama pelo Partido Verde (PV), quando participou da primeira chapa totalmente feminina – com vice também mulher – do Brasil. O feito foi destaque no jornal Folha de S. Paulo. Ainda pelo PV, foi candidata a deputada federal em 2010, quando obteve quase 6 mil votos. Em 2013, participou da fundaçãoda Rede Sustentabilidade, partido liderado desde o início por uma mulher, Marina Silva, e que obteve seu registro em 2015. Em 2018 Miriam foi candidata do partido ao Senado por Santa Catarina tendo feito 84.486 votos.